Diversos


Segunda-Feira

Wanderson Gonçalves Elias



O galo soa um canto suave e glorioso. Na verdade o galo não canta, é o celular que desperta e eu levanto para mais um dia como qualquer outro no começo da semana.

É segunda-feira, ainda de madrugada, os primeiros raios solares desmancham sob o céu amarelado. Junto comigo, milhares de outras pessoas acordam em suas residências, seja para trabalhar ou estudar. Seguem a caminho das paradas de ônibus, ainda sonolentas e desvairadas.

Aparentemente tudo normal, então começo a reparar a pacata rotina do transporte público.

Sou um dos primeiros a entrar e neste dia sentei na cadeira “alta” e fiquei observando.

O motorista, que feliz estava, guia o ônibus atentamente e cuidadosamente. Pára próximo às paradas e não fecha a porta enquanto o passageiro não entrou totalmente o ônibus, tornando a partir apenas depois que a porta se encontra fechada. Já o cobrador assiste ao caminho atento, cumprimentando e até esbanjando um belo sorriso.

Os primeiros passageiros sobem, retribuindo o sorriso do cobrador e se acomodam em diversos lugares.

A boa velhinha que andava feliz, provavelmente por estar viva, sentou-se à frente do ônibus nas cadeiras preferenciais e logo uma animada conversa surge entre o cobrador, a velhinha e alguns passageiros ali perto.

Mais e mais pessoas sobem ao ônibus, umas sonolentas, parecendo nem saberem o que estavam fazendo, outras felizes e falantes em animadas conversas com seus colegas.

Bom, as cadeiras encontram-se todas ocupadas. Em umas, colegas conversam sobre os mais diversos assuntos, ora esporte, ora política, ora novela dentre vários assuntos. Em outras, pessoas dormem parecendo que os bancos são confortáveis camas. Roncam, babam, sonham e assim vão, umas lêem, outras pensam, umas ouvem músicas.

Os primeiros passageiros que irão em pé sobem ao ônibus. O primeiro é um homem aparentando estar feliz, mas logo um leve tédio assola sua face, acho que por que teve o azar de se o primeiro a ir em pé.

Sobem alguns passageiros mal humorados. Sinal de que o ônibus está enchendo. Passam pelo cobrador de cara fechada, aparentemente qualquer atrito virá seguido de homicídio, mas logo se acostumam à ideia de ir em pé e mostram um humor melhor.

Pronto, lotou! O ônibus encheu. A primeira vista não cabe mais ninguém, só a primeira vista porque o impressionante vai acontecendo. Entra no ônibus praticamente o triplo de pessoas que já tinha dentro. Parece mágica!

Ônibus lotado! Isso não é problema se comparado ao que vem.

O ônibus pára. Quem sobe? Xii... Uma mulher grávida. E agora?

Se a grávida fosse ao menos bonita, acho que algum homem rapidamente teria levantado e cedido o lugar na esperança de ser mãe solteira. Mas não era bonita. O silencio reina, somente o barulho do motor e da velha conversando lá na frente. O ambiente fica apreensivo, parece final de copa do mundo.  Rapidamente uns começam a dormir, ou melhor, fingem que dormem. Outros não viram a grávida, ou melhor, eles acreditam que a gente acredita que eles não viram a grávida. Ela passa a catraca e vai se espremendo entre as pessoas, lentamente, olhando sempre para baixo e até mesmo acordando alguns que dormiam em pé. Impressionante! Ela vem chegando e ninguém cede o lugar. Para quem está atrás sentado, parece que vem vindo um monstro e a cada passo dele as chances vão se acabando. São rostos apreensivos que parecem formular uma estratégia para não serem atacados. O monstro vem chegando e... volta a ser apenas uma mulher grávida, alguém cedeu o lugar. Ufa! Ela tava chegando.

[...]